A afirmação da força vital da criação se opõe a realidade mesquinha e fria da morte.
O tempo se mostra uma invenção humana desnecessária quando o amor se torna atemporal. Encontros curiosos desafiam as limitações de tempo e espaço em nome do fluxo poético, causando impacto, nos fazendo mensurar o valor que damos a cada busca que fazemos em nossa vida.
sinopse:
"Não é difícil imaginar que as máquinas podem aprender a pensar como os homens, mas é assustador que os homens possam aprender a pensar como as máquinas."
É intrigante pensar que o cérebro humano se aproxima de uma máquina quando forçado a isto, podemos ficar tentados a forçar nossos limites e ir além, conhecer a fundo as ciências, artes, ou mesmo a natureza. PI mostra o que pode acontecer se decidirmos levar a fundo o desejo de testar nosso cérebro. Mais do que a ciência, a razão ou mesmo a incessante busca por algo, abdicar das sensações e atrever-se a viver uma vida com ausência de sentimentos pode ter consequências severas.
Buscas incessantes
Ao assistir os filmes de Darren Aronofsky somos forçados a rever alguns conceitos, temos nossa percepção gravemente ferida pelo conteúdo e pela cinemática do autor que consegue nos colocar no lugar do personagem, trazendo para o espectador as emoções sentidas no contexto dos filmes.
É possível dizer que a característica marcante de Aronofsky é manter uma constante ligação entre seus filmes, aparentemente ele tem um padrão a ser seguido, ligando um filme a outro como uma espiral infinita, isso é exemplificado claramente por Max em PI, que literalmente vê espirais e procura nelas relações com padrões existentes na natureza, em fonte da vida o mesmo acontece, a espiral ocorre nas incontáveis tentativas de encontrar a cura.
Ambos os filmes mostram seus personagens buscando respostas, desde o mais simples como as contas de matemática da garotinha em PI até mesmo a busca pela fonte da vida, que é em certo momento caracterizada como a cura para o câncer e então o poder de evitar a morte, mas que na realidade pode ser qualquer coisa que mova a sua vida, a fonte da vida pode ser entendida pela busca incessante de cada um por aquilo que o fará atingir o estágio sublime de paz interior caracterizado como nirvana, ou seja, a razão do viver, o motivo que mantém cada individuo motivado na luta pela sobrevivência.
Muitos assuntos religiosos são discutidos nos filmes; em PI a religião judaica e ao mesmo tempo a ausência total de crenças, o matemático Max não acredita em nada, não tem relações afetivas e nem mesmo sentimentos, portanto age como máquina abdicando as sensações para viver na pura racionalidade. O mesmo é mostrado em fonte da vida, por várias vezes os personagens abdicam os sentimentos e tentam viver na racionalidade, mas são constantemente puxados de volta para as sensações pelas personagens femininas das histórias, elas representam a emoção e os sentimentos enquanto os personagens masculinos representam a racionalidade e a consciência.
A racionalidade é extremamente valorizada por Aronofsky, em ambos os filmes são mostradas as ciências relacionadas a matemática e as ciências médicas, em PI a matemática é o foco central da vida de Max (personagem principal) e a medicina aparece de forma secundária devido aos surtos psicóticos que o mesmo sofre. Em fonte da vida a medicina aparece com grande destaque por ter um personagem veterinário que ao mesmo tempo busca a cura do câncer para sua esposa e a matemática aparece no mesmo personagem que também é um pesquisador. A passagem do tempo é marcada de forma categórica e precisa, feita sempre por anotações pessoais dos próprios personagens, causando uma marcação de tempo baseada na vida do personagem e não do tempo real.
É notável a semelhança entre PI e Fonte da vida quanto a forma de ver Deus como algo concreto porém desconhecido, em PI o número que corresponde ao diabo é conhecido, o 666, porém o número correspondente ao nome de Deus é uma incógnita que pode ser resolvida com cálculos matemáticos, assim como a árvore da vida em Fonte da vida. Em ambos os filmes, os personagens são incentivados a terminarem suas buscas, em PI o mestre avisa do perigo de se submeter a tal nível de racionalidade, porém dá sinais de que o matemático não deve desistir de sua busca assim como em fonte da vida os personagens masculinos do passado, do presente e do futuro são incentivados pela palavra “termine”.
Haja visto os argumentos expostos podemos concluir que existe padrão e continuidade nos filmes de Aronofsky que além de interligá-los de forma subjetiva têm sempre um final aberto dando oportunidade ao espectador de interpretar os filmes e entendê-los como julgar correto.
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